LIVROS DO ROMEO

LIVROS DO ROMEO
Coletânea de obras célebres e outras publicações do Romeo

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A MAIS COMPLETA HISTÓRIA DA MORTE DE JOANNA D'ARC



Escrita por Júlio Michelet. 
Esta parte foi retirada da História da França.
Aqui você terá a oportunidade de conhecer, em detalhes, como ocorreu o crime mais horrendo e cruel da Igreja cristã contra a jovem guerreira, temente a Deus e fiel à sua crença, seu povo e seu rei que a abandonou, deixando-a entregue à própria sorte. 
A história foi escrita pelo famoso historiador francês  Júlio Michelet.
BREVE BIOGRAFIA 
                Júlio Michelet, eminente historiador francês, nasceu em Paris a 21 de Agosto de 1798 e morreu em Hyères a 9 de fevereiro de 1874. Começo os seus estudos literários tendo como guia um velho livreiro, e nos momentos de folga ajudava seu pai, que era tipógrafo. Esteve no Colégio Charlemagne, e em 1821 alcançou as mais altas honras da Universidade, tendo sido nomeado então professor de história no colégio Rollin, 1821 - 1826. Foi nomeado lente da Escola Normal em 1827, e começou os seus famosos cursos de história no Colégio da França em 1838. Publicou entre outras obras: Histoire de France -em 16 volume, 1833 - 1867; Histoire de la Révolution Française, 1847 - 1853; La femme et la famille, 1844; l'Etudiant, 1848;  L'Oiseau, 1856;; L'Amour, 1859; La femme, 1860; La mer, 1861; La Montagne,1868; Ma Jeunesse, 1884; Mon Journal, 1888, etc. Publicou também, em 1929, uma tradução de obras escolhidas de Vico. Nos últimos tempos, (sob a impressão dos acontecimentos de 70 - 71) empreendera a publicação duma Histoire du XIX Siecle.


*       *       *    

JOANA D'ARC E A GUERRA DOS CEM ANOS 
               A história de Joana D'arc é parte da história de uma guerra que perdurou cem anos, entre a França e a Inglaterra, a partir de 1337. Não se trata propriamente de uma guerra entre dois povos constituídos em nações nitidamente diferenciadas; muitos "ingleses" eram normando, isto é, franceses que chegaram à Inglaterra com Guilherme, o Conquistador, em 1066, por outro lado,muitos "franceses" eram bretões, isto é, ingleses habitando há muito tempo o norte da França. 
            Seja como for, os ingleses obtiveram em 1415 uma vitória decisiva e, por um tratado assinado em Troyes, metade da França passou para o seu domínio, ou melhor, para o domínio de Henrique V, rei da Inglaterra, ficando a metade francesa sob o governo de Carlos VI.
              Morrendo Carlos VI, foi coroado rei da França o filho Henrique V, um inglês, portanto. Para os franceses, porém, rei mesmo era Carlos VII, filho do falecido monarca. Entre os franceses que não aceitavam o domínio inglês estava a camponesa Joana. 
              Os pais de Joana criaram-na rigorosamente segundo os princípios da fé católica. E, aos 12 anos, a menina teria tido sua primeira relevação divina: brincando com as amiguinhas, ouviu de repente uma voz: "Ide, e tudo será feito segundo as vossas ordens". A partir daí, a vida de joana mudou. Por onde andasse, as vozes acompanhavam-na, ordenando, sugerindo, encorajando: "é preciso expulsar os ingleses da França".  
         Joana acreditou na voz e na ordem. E foi à côrte de Carlos VII, que ainda não era oficialmente considerado rei, mas apenas herdeiro do falecido rei Carlos VI. Foi procurar Carlos; e lá chegando foi recebido pelo capitão e lhe disse: "Deus fez-me ouvir Sua voz e ordenou que eu salvasse a França e expulsasse os invasores ingleses deste território. Devo encontrar-me imediatamente com o nosso verdadeiro rei Carlos II; peço-vos que me leves à sua presença." O capitão não acreditou na camponesa Joana e demorou cerca de um ano até levá-la à presença de Carlos, mas finamente foi conduzida sob escolta até Carlos. Diante de Carlos e este quis testá-la e indicando um dos seus ministros disse: "Eis o seu rei, fale com ele." Joana sequer o olha e diz-lhe "Em nome de Deus, vós sois o rei! Se fizerdes como direi, os ingleses serão expulsos e vós sereis reconhecido por todos como rei da França".  
      Abismado, Carlos sentiu que ali havia um milagre. Pouco depois, nomeou Joana comandante do Exército francês. Era o ano de 1429 e joana só tinha 18 anos. 
             A comandante Joana D'arc levou seu exército de 4.000 homens até às portas de Órleans. Antes de atacar seus inimigos que sitiavam a cidade a seis meses, disse-lhes:  (Voltai a vosso país. Deus assim o quer! O reino da França não os cabe, mas a Carlos! Eu sou enviada de Deus e minha tarefa é expulsar-vos daqui! Deus me dará a força necessária para repelir vossos ataques!" Os soldados ingleses, diante daquela jovem camponesa, caíram na gargalhada ao ouvir tal discurso. Joana não exitou e ordenou ao seu exército francês  que atacasse. 
             O povo de Órlenas, que durante seis meses vivera oprimido e aterrorizado, criou ânimo e também lançou-se à luta. Sentiam que finalmente a França inteira tinha um lider, uma heroína. 
             Após três dias de luta, os ingleses recuaram. Orleans estava livre. Outra cidade importante , Reims , caíra logo a seguir em poder dos franceses. Carlos VII, agora reconhecido legítimo rei da França, foi coroado e consagrado a 17 de julho de 1429 na catedral de Reims. 
             Os ingleses, porém. não tinham sido totalmente expulsos. E Joana decidiu continuar a guerra. Foi aí que se desenhou a tragédia de seu destino. Na batalha de Compiégne, perto de Paris, adversários franceses de Carlos VII conseguiram prendê-la e entregaram-na a seus aliados ingleses. Era chegado o momento da vingança. Organizou-se um tribunal eclesiástico que acusou Joana de herege e praticante de uma magia negra. Disseram que ela era uma bruxa comandada pelo Diabo. Explicam-se as acusações: era preciso mostrar Joana ao povo, não como heroína, mas como uma espécie de anticristo. 
                O processo foi longo e penoso. Joana negou todas as acusações: "Tudo o que fiz foi por ordem de Deus", insistia. Sua firmeza foi inútil. A sentença - condenação à morte - foi promulgada e cumprida. O rei Carlos VII, que por ela foi levado ao poder legítimo, nada fez; estava muito ocupado com questões políticas internas. 
                 Joana D'arc morreu queimada viva, mas sua curta carreira militar, sua figura quase fantástica, criaram no povo francês uma consciência nacional de patriotismo. Seu legado ficou para sempre. Os poucos anos em que a humilde camponesa esteve envolvida naquele conflito, que já perdurava mais de cem anos, marcaram o fim das pretensões territoriais inglesas no território francês. 
                 Começa oficialmente o reinado de Carlos VII, descendente de longa linhagem  de reis franceses. Embora Carlos VII se tivesse mantido calado, o povo francês reconheceu que foi ela quem finalmente criou o verdadeiro Estado Nacional. Joana passou a ser considerada a mártir francesa que perdura até hoje. 
Nicéas Romeo Zanchett 
                
                

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

PROCESSO - JULGAMENTO E MORTE DE JOANNA D'ARC


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de
COLETÂNEA DE OBRAS CÉLEBRES - ROMEO 

Uma silenciosa multidão ocupa a praça do mercado da cidade francesa de Ruão. Soldados impassíveis montam guarda a uma estaca, ao pé da qual outros juntam os últimos gravetos para uma fogueira. É manhã de 30 de maio de 1431 e, dentro poucos minutos, uma jovem que ainda não tinha 20 anos de idade, será condenada à morte e queimada viva, após ter sido julgada feiticeira, herética, impostora e aliada ao demônio. 
A jovem camponesa da aldeia de Domremy é trazida sob escolta pelos soldados. Enquanto a amarram à estaca, ela diz: "Tudoo que fiz foi por ordem de Deus". O fogo é ateado e logo as chamas sobem e alcançam seu corpo. Sem nada mais poder fazer, a multidão lentamente se retira; não está convencida de que a sentença foi justa, ao contrário, não concorda com o veredito do tribunal eclesiástico. 
Passados 25 anos a tristeza pela sua morte continua presente no pensamento das pessoas. Insistentes solicitações fazem com que a Igreja reabra seu processo. E a jovem camponesa e reabilitada de todas as acusações; torna-se a primeira heroína da nação francesa. 

*       *        * 
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                As pesquisas em relação à Pucelle foram tão profundamente insuficientes (como base para uma perseguição) que esta, que contra ela começara com o fundamento de magia, foi prosseguida com o fundamento de heresia. 
                A 21 de fevereiro, a donzela foi levada perante os juízes. O bispo de Beauvais admoestou-a "com meiguice e caridade", pedindo-lhe para que dissesse a verdade a respeito do que lhe perguntassem, para abreviar o seu processo e aliviar a sua consciência, sem procurar subterfúgios. 
                Resposta: 
                - Não sei sobre o que querem interrogar-me, poderão perguntar-me coisas tais que lhes não possa responder.
                Consentia em jurar dizer a verdade sobre tudo o que não tivesse relação com às suas visões. 
                - Mas, quanto a este último ponto, disse ela, primeiro me cortariam a cabeça. 
                Apesar disso levaram-na a jurar que responderia "no que dissesse respeito à fé." 
                Novas instâncias no dia seguinte, 22 de fevereiro, e ainda no dia 24. 
                Ela continua a resistir; "É ditado das crianças, que se enforcam muitas vezes as pessoas por terem dito a verdade." Acabou cansada, por consentir em jurar dizer o que soubesse sobre seu processo, mas não tudo o que soubesse. 
                Interrogada sobre a idade, nome e apelido, disse que tinha dezenove anos. 
                - Na aldeia onde nasci chamavam-me de Joaninha e na França Joanna...
                Mas quanto ao apelido (a Donzela), parece que, por um capricho de modéstia feminina, teve custo em declarar; iludiu a pergunta por uma pudica mentira: 
                - Do apelido nada sei. 
               Lamentava-se de lhe porem ferros nos pés. 
               O bispo disse-lhe que, em virtude dela ter tentado muitas vezes fugir, se tinham visto obrigados a pôr-lhe esses ferros. 
               - É verdade, disse ela, assim procedi, o que é lícito da parte de todo o prisioneiro. Se tivesse podido fugir, não poderiam acusar-me de ter faltado ao meu juramento, porque nada prometi. 
               Ordenaram-lhe que dissesse o Pater e a Ave, talvez na supersticiosa ideia de que se ela tinha pacto com o diabo, não poderia dizer essas orações: 
               - Dilo-ei da melhor vontade se monsenhor de Bauvais me quer  ouvir de confissão. 
               Hábil e comovedor pedido; oferecendo assim a sua confiança ao seu juiz, ao seu inimigo, fazia dele o seu pai espiritual e a testemunha da sua inocência. 
               Cauchon recusou, mas creio bem que estava comovido. Levantou a sessão nesse dia e no dia seguinte não foi ele quem a interrogou; encarregou disso um dos assessores. 
               Na quarta audiência, animava-a uma singular vivacidade. Não ocultou que tinha ouvido as vozes que costumavam falar-lhe:
               - Acordaram-me, disse ela, pus as mãos e pedi-lhes que me aconselhassem, ao que me responderam: Pede a Nosso Senhor. 
               - E que mais disseram elas ainda? 
               - Que vos responda sem receio. "... não posso dizer tudo, tenho mais medo de dizer o que quer que seja que lhes desagrade, do que de responder-vos a vós... Porque hoje, peço-vos que não me interrompam. 
                - O bispo insistiu, ao vê-la comovida: 
                - Mas, Joanna, desagrada-se a Deus dizendo a verdade? 
                - As vozes que me falam disseram-me certas coisas,não para vós, mas para o rei. E acrescentou com vivacidade: "Ah! se ele as soubesse, jantaria com mais satisfação... Desejava que ele as soubesse e não bebesse vinho daqui até a Páscoa."
                Entre estas ingenuidades, dizia coisas sublimes: 
                - Venho da parte de Deus, não tenho que fazer aqui, mandem-me para Deus, donde vim... "Dizeis que sois meu juiz; vede bem o que ides fazer, porque na realidade sou enviada de Deus, colocai-vos em grande perigo." 
                 Tais palavras sem dúvida irritaram os juízes, os quais  lhe dirigiram uma insidiosa e perfídia pergunta, uma pergunta tal que não se pode dirigir em crime a uma pessoa viva:
                - Joanna, julga estar em estado de graça? 
                Julgam-me ter-lhe estendido um laço insolúvel. Dizer não, era confessar-se indigna de ter sido o instrumento de Deus. Mas, por outro lado, como dizer sim? Qual de nós, frágeis criaturas, tem a certeza neste mundo de estar verdadeiramente na graça de Deus? Ninguém, a não ser o orgulhoso, o presunçoso, exatamente aquele que, entre todos, está mais longe disso. 
                Ela cortou o nó com uma simplicidade heroica e cristã. 
                - Se o não estou, Deus se digne pôr-me nesse estado; se o estou, Deus queira nele conservar-me. 
                Os Fariseus ficaram estupefatos...
                Mas, com todo o seu heroísmo, era mulher... Depois desta frase sublime, caiu em si, enterneceu-se, duvidando do seu estado, como é natural duma alma cristã, interrogando-se e esforçando-se por se tranquilizar; 
                - Ah! seu eu soubesse não estar na graça de Deus, seria a pessoa mais aflita do mundo... Mas, se estivesse em pecado, a voz sem dúvida não se faria ouvir... Desejava que todos a pudessem ouvir como eu... 
                Estas palavras silenciaram os juízes. Após uma longa pausa, voltaram à carga com um argumento de ódio e dirigiram-lhe uma após outra as perguntas que podiam perturbá-la. As vozes não lhe tinham dito que odiasse os Burguinhões? Não ia ela, na infância, à árvore das fadas? etc... Desejariam queimá-la já como feiticeira. 
                Na quinta audiência, atacaram-na por um lado delicado, perigoso, o das aparições. O bispo, tornado de súbito compadecido, untuoso, mandou-lhe fazer esta pergunta: 
                - Joanna, como tem passado desde sábado? 
                - Como vedes, respondeu a própria prisioneira carregada de ferros, o melhor que tenho podido. 
                - Joana, jejua todos os dias da quaresma? 
                - Isso é do processo? 
                - Sim, realmente. 
                - Pois bem, sim, tenho sempre jejuado. 
                Apertaram-na então com perguntas sobre as visões, sobre um sinal que se dizia ter aparecido ao delfim, sobre Santa Catarina e S. Miguel. Entre outras perguntas hostis e inconvenientes, perguntaram-lhe se quando lhe aparecia, S. Miguel estava nu?...  A essa vil pergunta, ela replicou, sem compreender, com uma pureza celestial: 
                - Imaginam que Nosso Senhor não tem com que o vestir? 
                A 3 de março, outras perguntas extravagantes, para lhe fazerem confessar qualquer diabrura, qualquer mau pacto com o diabo. 
                - Esse S. Miguel, essas santas, tem corpo, membros? Essas figuras são realmente anjos? 
                - Sim, creio-o tao firmemente como creio em Deus. 
                Esta resposta foi cuidadosamente anotada. 
                Passam daí ao fato de homem, ao estandarte: 
                - Os homens de armas não faziam estandartes à semelhança do vosso? Não os renovavam? 
                - Sim, quando a lança se quebrava. 
                - Não lhes dissestes que esses estandartes lhes dariam felicidade? 
                - Não, eu dizia apenas: Avancem audazmente por entre os ingleses, e eu própria avançava.
                - Mas porque é que esse estandarte foi levado à sagração à igreja de Roma, de preferência aos dos outros capitães? 
                - Tinha estado na brecha, justo era que fosse honrado. 
                - Qual era o pensamento da gente que lhe beijava os pés, as mãos e o vestuário? 
                - A pobre gente vinha naturalmente a mim, porque eu não lhe desagradava; amparava-a e defendia-a quanto podia. 
                Não havia coração que não se comovesse com tais respostas. Cauchon entendeu convenientemente proceder dai em diante com homens seguros, e sem ruído.  Desde o começo do processo vê-se que o número dos assessores varia em cada audiência; alguns vão-se embora, outros vem. 
                O lugar dos interrogatórios varia da mesma forma; a acusada, interrogada a princípio na sala do castelo de Rouen, é-o agora na prisão. Cauchon, "para não fatigar os outros", levava apenas dois assessores e duas testemunhas (de 10 a 17 de março). O que talvez lhe deu coragem para proceder assim a um processo secreto foi que já tinha a certeza do apoio da inquisição; o vigário tinha finalmente recebido do inquisidor geral da França a autorização de julgar com o bispo (12 de março).  
                Nesses novos interrogatórios, insiste-se apenas nalguns pontos previamente indicados por Couchon. 
                Foram as próprias vozes que lhe ordenaram a sortida de Compiêgene, onde fora feita prisioneira? 
                Não responde diretamente: 
                - As santas bem me tinham dito que eu seria aprisionada antes de S. João, que era preciso que assim fosse, que não devia admirar-me, mas sim sujeitar-me e que Deus  me auxiliaria... Visto que Deus assim o quis, foi para o bem que me prenderam. 
                - Julga ter andado bem em partir sem licença de seu pai e de sua mãe? Não se deve honrar pai e mãe? 
               - Eles perdoaram-me. 
               - Julgava não pecar, ao proceder assim? 
               - Deus ordenava-o; ainda que tivesse com pai e cem mãe, teria partido. 
               - As vezes não lhe chamaram filha de Deus, filha da Igreja, rapariga corajosa? 
               - Antes do cerco de Orleans ter sido levantado, e depois, as vozes chamaram-me todos os dias: "Joanna, a donzela, filha de Deus." 
               - Parece-lhe bem ter atacado Paris no dia da Natividade de Nossa Senhora? 
               - Parece-me bem o guardar as festas de Nossa Senhora; em consciência, deviam ser guardadas todos os dias. 
               - Porque motivo saltou da torre de Beaurevoir?  (queriam fazer-lhe dizer que se tinha querido matar). 
               - Ouvia dizer que os pobres habitantes de Compiégne seriam todos mortos, até mesmo crianças de sete anos, e sabia alem disso que me tinham vendido aos ingleses; preferia morrer a cair nas mãos deles.
                - Santa Catarina e Santa Margarida odeiam os ingleses? 
                - Amam o que Nosso Senhor ama e odeiam o que ele odeia. 
                - Deus odeia os ingleses?
                - O amor ou ódio que Deus tem aos ingleses e o que faz das suas alma, não sei, mas sei bem que eles serão expulsos da França, a não ser os que ali morrerem. 
                - Não é um pecado mortal aceitar um homem de refém e em seguida fazê-lo morrer? 
                - Não fiz tal coisa. 
Franquet de Arras não foi morto? 
                - Consenti nisso, por não poder troca-lo por um dos meus homens; confessou ser um ladrão e um traidor. O processo durou quinze dias no bailio de Senlis.
                - Não deu dinheiro ao homem que se apoderou de Franquet? 
                - Não sou tesoureiro da França, para dar dinheiro. 
                - Julga que o seu rei agiu certo em matar e mandar matar o monsenhor de Borgonha? 
                - Foi um grande mal para o reino da França. Mas, houvesse o que houvesse entre eles, Deus enviou-me em socorro do rei da França. 
                - Joanna, sabe por revelação se escapará? 
                - Isso não tem nada com o processo. Querem que fale contra mim? 
                - As vozes nada lhe disseram? 
                - Isso também não é do processo; confio em Nosso Senhor, que fará o que lhe aprouver. 
                E após uma pausa; 
                - Por minha fé, que não sei nem a hora e  nem o dia; faça-se a vontade de Deus! 
                - Então as vozes nada lhe disseram, em geral? 
                - Pois bem, sim, disseram-me que seria libertada, que deveria me manter alegre e corajosa... 
                Em outro dia acrescentou: 
                - As santas dizem-me que serei libertada com grande vitória, e dizem-me ainda: "Aceita tudo com gosto; não te importes com o teu martírio; chegarás finalmente ao reino do Paraíso. 
                E desde que elas disseram isso, tem a certeza de se salvar e não ir para o inferno?
                - Sim, creio tão firmemente no que elas me disseram como se já estivesse salva. 
                - Essa resposta é dum grande peso. 
                - Sim, é para mim um grande tesouro. 
                - Assim, acredita que já não pode fazer um pecado mortal? 
                - Não sei; confio absolutamente em Nosso Senhor. 
                Os juízes haviam finalmente chegado ao verdadeiro terreno da acusação, haviam encontrado um forte ponto de apoio. Fazer passar por feiticeira, por gente do diabo essa casta e santa rapariga, não era possível, era preciso renunciar a tal; mas naquela própria santidade, como na de todos os místicos, havia um lado atacável; a voz secreta igualada ou preferida aos ensinos da Igreja, às prescrições da autoridade; a inspiração, mas livre, a revelação, mas pessoal, a submissão a deus; que Deus?  o Deus íntimo. 
                 Acabaram os primeiros interrogatórios por lhe perguntarem se ela queria submeter as suas palavras e o que fizera à resolução da Igreja. Ao que ela respondeu:  
                 - Amo a Igreja e desejaria ampará-la com todo o meu poder . Quanto às boas obras que fiz, são obras do Rei do céu, que me enviou. 
                 Sendo a pergunta repetida, não deu outra resposta, acrescentando: 
                 - São um, Nosso Senhor e a Igreja. 
                 Disseram-lhe então que era preciso distinguir; que havia a Igreja triunfante, Deus, os santos, as almas salvas, e a Igreja militante, ou, por outras palavras, o papa, os cardeais, o clero, os bons cristãos, Igreja que, "bem reunida", não pode errar, e é governada pelo Espírito Santo. 
                 - Não quer então submeter-se à Igreja militante? 
                 - Fui enviada ao rei da França por Deus, pela Virgem Maria, pelos santos e pela Igreja vitoriosa lá do céu; a essa Igreja submeto-me, eu, as minhas obras, o que fiz e tenho a fazer.  
                 - E a Igreja militante? 
                 - Não responderei nada mais. 
                 A dar crédito a um dos assessores, ela teria dito que, com relação a certos pontos, não acreditava nem no bispo, nem no papa, nem em ninguém; que o que tinha, o tinha de Deus. 
                 A questão do processo ficou assim posta na sua simplicidade, na sua grandeza; o verdadeiro debate começou; duma parte a Igreja visível e a autoridade, doutra a inspiração atestando a Igreja invisível... invisível para os olhos vulgares, mas a piedosa jovem via-a claramente, contemplava-a incessantemente e ouvia-a em si mesma, trazia no coração esses santos e esses anjos... Essa era para ela a Igreja, ali brilhava Deus; em outra qualquer parte quanto ele era obscuro!...
                Sendo assim o debate, não havia remédio; a acusada devia perder-se. Não podia ceder, não podia, sem mentir, desmentir-se, negar o que via e ouvia tão distintamente. Por outro lado, a autoridade ficava sendo autoridade se abdicasse da sua jurisdição, se não castigasse? 
                ... Ela adoeceu na semana santa. A tentação começou, sem dúvida, no domingo de Ramos. Filha do campo, nascida à beira dos bosques, ela que sempre vivera ao ar livre, teve de passar o belo dia de Ramos no fundo da torre.  O grande socorro que a Igreja invoca nesse dia não lhe chegou, a ela; a porta não se abriu.  
                Abriu-se na terça-feira, mas foi para a acusada ser conduzida à grande sala do castelo à presença dos seus juízes. Leram-lhe as conclusões que haviam tirado das suas respostas e primeiramente o bispo expôs-lhe que aqueles doutores, sendo todos homens da Igreja, clérigos e letrados em direito divino e humano, e todos benignos e piedosos, queriam esclarecê-la e pô-la no caminho da verdade e da salvação; que, como ela não era assas instruída em tão elevada matéria, o bispo e o inquisidor lhe consentiam que ela escolhesse um ou muitos dos assistentes para a aconselharem.A acusada em presença desta assembléia, na qual não encontrava um rosto amigo, respondeu com suavidade: 
                - No que me admoesta para meu bem e com relação à nossa fé, agradeço-lhe; quanto ao conselho que me oferece, não tenho intenção de me afastar dos conselhos de Nosso Senhor. 
                O primeiro artigo dizia respeito ao ponto capital, a submissão. 
                 Ela respondeu como já fizera antes: 
                 - Creio bem que o nosso Padre Santo, os bispos e os outros homens da Igreja são para guardar a fé cristã e punir os que nela desfalecem.  Quanto às minhas vestes só me submeterei à Igreja do céu, a Deus e à Virgem, aos santos do paraíso. Não desfaleci na fé cristã nem queria desfalecer.  
                 E mais adiante;
                 Prefiro morrer a retratar o que fiz por ordem de Nosso Senhor.  
                 O que dá uma imagem nítida do tempo, só espírito inculto desses doutores, do seu cego apego à letra, sem consideração para com o espírito, é que ponto algum lhes parecia mais grave que o pecado de se ter vestido de homem.  Demonstraram-lhe que, segundo os cânones, os que mudam assim o vestuário do seu sexo, são abomináveis para Deus. A princípio, ela não quis responder diretamente e pediu espera até o dia seguinte. Como os juízes insistissem para que ela mudasse de vestuário, respondeu: 
               - Não está na minha mão dizer quando poderei fazer. 
               - Mas se a privassem de ouvir missa? 
               - Nosso Senhor pode muito bem fazer-me ouvir sem vós. 
               - Quer vestir o seu vestuário de mulher para receber o seu salvador na Páscoa?
               - Não, não posso deixar este vestuário para receber o meu Salvador, não faço diferença entre esta roupa e outra qualquer. 
               Depois parece abalada e pede que, pelo menos, lhe deixem ouvir missa, e acrescenta: 
               - Se ao menos me dessem um vestido como aqueles que as filhas dos burgueses trazem, um vestido bem comprido.  
                Vê-se bem que ela corava ao se explicar. A pobre rapariga não se atrevia a dizer em que contínuo perigo estava na prisão. É preciso saber que três soldados dormiram no seu cárcere, três desses salteadores que se chamavam houspilleurs.  É preciso saber que, presa a uma trave por uma grossa cadeia de ferro, estava quase à mercê deles; o fato de homem que lhe queriam fazer despir era a sua única salvaguarda... Que dizer da imbecilidade do juiz, ou da sua horrível conivência? 
                 Sob os olhos desses soldados, entre os seus insultos e as suas zombarias, era, além disso, espiada de fora; Winchester, o inquisidor, e Cauchon tinham, cada um deles, uma chave da torre e observavam-na a cada momento; tinha-se,  de propósito, furado a parede; naquele infernal ergastulo, cada pedra tinha olhos.  
                 A sua única consolação era que tinham deixado comunicar com ela um sacerdote que se dizia prisioneiro e do partido do Carlos VII. Esse Loyseleur, como lhe chamavam, era um normando que pertencia aos ingleses. Alcançara a confiança de Joanna, recebia a sua confissão, e esse tempo, notários ocultos escutavam e escreviam... Pretende-se que Loyseleur a incitou a resistir, para a fazer morrer. Quando se deliberou sobre ela, devia ser submetida à tortura (coisa escusada, visto que ela não  negava nem ocultava coisa alguma), apenas dois ou três  homens aconselharam tal atrocidade, e o confessor foi desse numero. 
                 ... A sentença de perdão era bem severa... "Joanna, condenamo-la por graça e moderação a passar o resto da vida em prisão, ao pão da dor e à água da angústia, para ali chorar os seus pecados. 
                 Era admitida pelo juiz da Igreja fazer penitência, em nenhuma outra parte sem dúvida, a não ser nas prisões da Igreja. O in pace eclesiástico, por mais duro que fosse, devia pelo menos tirá-la das mãos dos ingleses, pô-la ao abrigo dos seus ultrajes, salvar-lhe a honra. 
                 Qual não foi a sua surpresa e o seu desespero, quando o bispo disse com frieza: 
                 - Levem-na para onde a foram buscar.
                 Nada está feito; assim iludida, ela não podia deixar de retratar a sua retratação. Mas, ainda que nela quisesse persistir, a raiva dos ingleses não lho teria permitido. Tinham visto a Saint-Ouen, com a esperança de queimarem finalmente a feiticeira; esperavam ofegantes, e julgavam despedi-los assim, pagar-lhes com um bocado de pergaminho, com uma assinatura, com uns trejeitos... No próprio momento em que o bispo interrompeu a leitura da sentença, as pedras caíram sobre os estrados, sem respeito pelo cardeal... Os doutores estiveram a ponto de morrer ao descerem para a praça; não se viam de todos os lados senão espadas desembainhadas que lhes apontavam às gargantas; os mais moderados dos ingleses ficavam nas palavras insultantes:  
                  - Padres, não ganhais o dinheiro do rei.
                  Os doutores, desfilando às pressa, diziam todos trêmulos: 
                  - Não se inquietem, em breve a apanharemos. 
                  E não era somente a escumalha dos soldados, o mob inglês, sempre tão feroz, que mostrava esta sede de sangue. As pessoas honestas, os grandes, os lordes, não eram menos encarniçados. O homem do rei, o seu governador, lorde Warwick, dizia como os soldados: 
                O rei vai mal, a rapariga não será queimada. 
                Warwick era exatamente o homem honesto, segundo as ideias inglesas, o inglês perfeito gentleman.  Bravo e devoto, como seu amo Henrique V, campeão zeloso da Igreja estabelecida, tinha feito uma peregrinação à Terra Santa e muitas outras viagens cavalheirescas, não faltando a um torneio que se lhe deparasse no caminho. Ele próprio deu um dos mais ruidosos e mais célebres às portas de calais, onde desafiou toda a cavalaria da França. Ficou dessa festa uma longa recordação; a bravura, a magnificência desse Warwick não concorreram pouco para aplanar o caminho ao famosos Warwick, o fazedor de reis.
                 Apesar de todo o cavalheirismo, Warwick não deixava de desejar a morte duma mulher, duma prisioneira de guerra; o melhor e o mais estimado dos ingleses não tinha escrúpulo algum de honra em matar por sentença de padres e pelo fogo, aquela que os tinha humilhado pela espada.  
                 Esse grande povo inglês, entre tantas boas e sólidas qualidades, tem um vício que estraga até essas qualidades. Esse vício imenso, profundo, é o orgulho. Cruel doença, mas que não deixa de ser o princípio da sua vida, a explicação das suas contradições, o segredo dos seus atos. Entre eles, virtudes e crimes, é quase sempre orgulho; os seus ridículos também só disso provem.  Esse orgulho é prodigiosamente sensível e doloroso; sofrem infinitamente com ele e tem ainda orgulho em ocultar esses sofrimentos. Todavia eles transparecem; a língua inglesa possui, propriedade sua, as duas palavras expressivas de disappointment e mortification. 
                  Esta adoração de si, este culto íntimo da criatura por si mesma, é o pecado que fez cair Satanás, a suprema impiedade. Eis porque, com tantas virtudes humanas, com aquela seriedade, aquela honestidade exterior, aquela feição de espírito bíblico, nação alguma está mais longe de estar em graça. É o único povo que não tem podido reivindicar a imitação de Jesus; um francês podia escrever  esse livro, um alemão, um italiano, nuca um inglês. De Shakespeare a Milton, de Milton a Byron, a sua bela e sombria literatura é cética, judaica, satânica, para resumir, anti-cristã. Os índios da América, que por vezes tem tanta penetração e originalidade, dizem a seu modo: "Cristo era um francês que os ingleses crucificaram em Londres; Pôncio Pilatos  era um oficial a serviço da Grã-bretanha." 
                  Nunca os judeus foram tão implacáveis contra Jesus como os ingleses contra a donzela. Ela tinha-os, deve-se dizê-lo, cruelmente ferido no ponto mais sensível, na estima ingênua e profunda que tem por si mesmos. Em Orleãs, a invencível gendarmeria, os famosos arqueiros, com Talbot à frente, tinham voltado as costas; em Jargeau, numa praça e por detrás de boas muralhas, tinham-se deixado aprisionar; em Paty, tinham fugido a bom fugir, fugido diante duma rapariga... Era isso o que custava a pensar, o que esses taciturnos ingleses ruminavam incessantemente consigo mesmos... Uma rapariga metera-lhes medo e não era certo que lho não metesse ainda, apesar de carregada de cadeias... Não ela, aparentemente, mas o diabo de quem ela era agente; tratavam pelo menos de assim o crerem e de o fazerem crer. Para isso, havia contudo uma dificuldade, o dizerem-na virgem e era notório e perfeitamente estabelecido que o diabo não podia fazer pacto com uma virgem. A cabeça mais sábia que os ingleses tinham, o regente Bedford, resolveu esclarecer este ponto; a duquesa, sua mulher, enviou matronas, que declararam, com efeito, que ela era donzela. Essa declaração favorável voltou-se exatamente contra ela, dando lugar a uma outra imaginação supersticiosa. Concluiu-se que era virgindade que fazia a sua força, o seu poder; tirar-lhe era desarmá-la, romper o encanto, fazê-la descer ao nível das outras mulheres.  
                   A pobre rapariga, em tal perigo, não tivera até então por defesa senão o fato de homem.  Mas, coisa estranha, ninguém tinha querido compreender por que motivo ela o conservava. Os seus amigos, os seus inimigos, todos estavam escandalizados. Logo no princípio  fora obrigada a explicar-se às mulheres de Poitiers. Quando foi aprisionada e posta sob a guarda das damas de Luxemburgo, essas boas damas pediram-lhe que se vestisse como convinha a uma rapariga honesta. As inglesas princialmente, que sempre tiveram prurido de castidade e de pudor, deviam encontrar um tal travesti monstruoso e intoleravelmente indecente. A duquesa de Bedford mandou-lhe um vestido, mas por quem? Por um homem, por um alfaiate. Esse homem, atrevido e familiar, atreveu-se a querer vestir-lhe o vestido, e, como ela o repelia, ergue sobre ela a mão sem cerimônia; a sua mão de alfaiate sobre a mão que empunhara a bandeira da França. Ela deu-lhe uma bofetada. 
                 Se as mulheres nada compreendiam desta questão feminina, ainda menos a deviam compreender os padres. Citavam o texto dum concílio do quarto século, que anatematizavam essas mudanças de vestuário. Não viam que essa proibição se aplicava especialmente a uma época em que mal se saia da impureza pagã. Os doutores do partido de Carlos VII, os os apologistas da Donzela, sentem-se muito embaraçados ao querê-la justificar nesse ponto. Um deles (julga-se ser Gerson) supõe gratuitamente que, logo que ela se apeia do cavalo, se veste de mulher; confessa que Ester e Judith empregaram outros meios mais naturais, mais femininos, para triunfarem dos inimigos do povo de Deus.  Esses teólogos, todos preocupados com a alma, parecem não se importar com o corpo; contanto que se siga a letra, a lei escrita, a alma será salva; que a carne se torne no que puder... É preciso perdoar a uma pobre e simples rapariga não ter sabido distinguir tão bem. 
                 É uma triste condição deste mundo que a alma e o corpo estejam tão estreitamente unidos um ao outro, que a alma arraste esta carne, que lhe sofra os acasos e que responda por ela... Essa fatalidade foi sempre pesada, mas quanto mais não o é sob uma lei religiosa que ordena que se sofra o insulto, que não permite que a honra em perigo possa escapar deixando o corpo e refugiando-se  no mundo dos espíritos!  
                Na sexta-feira e sábado,  a desaventurada prisioneira, despojada da veste de homem, tinha rasão para ter receio. A natureza brutal, o ódio furioso, a vingança, tudo devia impelir os covardes a desgraçá-la antes dela morrer, a manchar o que iam queimar... Podiam, além disso, ser tentados a cobrirem a sua infâmia com uma razão de Estado, segundo as ideias do tempo; roubando-lhe a virgindade, devia-se sem dúvida destruir esse poder oculto de que os ingleses tinham tanto medo; recuperariam talvez coragem, se soubessem que, no fim das contas, ela não era senão realmente uma mulher. Ao que diz o seu confessor, a quem ela o revelou, um inglês, não um soldado, mas um gentleman, um lorde, dedicou-se patrioticamente a tal tarefa; empreendeu com bravura violar uma rapariga carregada de ferros, e, não o conseguindo, encheu-a de pancadas. 
                 Quando chegou a manhã de domingo, dia da Trindade, e que ela teve de levantar (como ela o contou àquele que fala) , disse aos ingleses, seus guardas: 
                 - Tirem-me os ferros, para que possa levantar-me. Um deles tirou-lhe a roupa de mulher que estava sobre ela, esvaziou o saco onde estava a roupa de homem, e disse-lhe: 
                - Levanta-te. 
                - Senhores, disse ela, sabeis que me é proibido; de maneira nenhuma o vestirei. 
                Esse debate durou até ao meio dia e, finalmente, por necessidade do corpo, foi forçada a sair e vestir a tal roupa. No progresso não quiseram dar-lhe outra, apesar das súplicas que fez.  
                Não era, no fundo, interesse dos ingleses que ela vestisse de novo a roupa de homem e que anulasse assim uma retratação tão laboriosamente obtida. Mas naquele momento a sua raiva era ilimitada. Xaintrailes acabava de fazer uma audaciosa tentativa sobre Rouen.  Teria sido um audacioso golpe raptar os juízes do tribunal, levar para Poitiers Winchester e Bedford, o último dos quais esteve a ponto de ser aprisionado no regresso, entre Rouen e Paris. Não havia segurança para os ingleses enquanto vivesse essa maldita rapariga, que sem duvida continuava os seus malefícios na prisão. Era preciso que ela morresse. 
               Os assessores, advertidos no mesmo instante para irem ao castelo, afim de verem a mudança de roupa, encontraram no páteo uma centena de ingleses, que lhes impediram a passagem; pensando que esses doutores, se entrassem, podiam estragar tudo, ergueram sobre eles as achas de armas, as espadas, e deram-lhe caça, chamando-lhes de traidores de Armagnaux. Couchon, tendo entrado com grande custo, fingiu-se alegre para agradar a Warwick  e disse, rindo: 
               - Está apanhada! 
                Na segunda-feira, voltou com o inquisidor e oito assessores, para interrogar a Donzela e lhe perguntar porque motivo ela mudara de roupa. Ela não deu desculpa alguma, mas, aceitando corajosamente o perigo, disse que essa roupa lhe convinha mais enquanto fosse guardada por homens, que, além disso, tinham faltado à palavra  que lhe haviam dado. As suas santas tinham-lhe dito "que fora grande pena ela ter abjurado para salvar a vida."  Não se recusava de resto a retomar o vestuário de mulher.  
               - Deem-me uma prisão suave e segura, disse ela, e serei tão boa e farei tudo o que a Igreja quiser. O bispo ao sair, encontrou Warwick e uma multidão de ingleses, e, para se mostrar bom inglês, disse nessa língua: 
               - Farewell, farewell. 
                Esse alegre adeus queria dizer pouco ou menos: 
               - Boas tardes, boas tardes, tudo está acabado. 
               Eram nove horas da manhã, (de terça-feira) vestiram-lhe a roupa de mulher e puseram-na numa carreta. A seu lado estava o confessor, frei Martinho do Advento, do outro estava o meirinho Mssieu. O frade Agostinho frei Isambart, que mostrara já tanta caridade e coragem, não quis abandoná-la. Assegura-se que o miserável Loyseleur foi também na carreta e pediu-lhe perdão; os ingleses te-la-iam matado se não fosse o conde de Warwick. 
               Até então, a Donzela nunca tinha perdido a esperança, exceto talvez por ocasião da sua tentação durante a semana santa. Apesar de dizer, como muitas vezes disse: "estes ingleses far-me-ão morrer", no fundo, não acreditava em tal. Não imaginava que pudesse ser abandonada. Tinha fé no seu rei, no bom povo da França. Tinha dito expressamente: 
             - Haverá na prisão ou durante o julgamento, qualquer tumulto por meio do qual serei libertada... libertada com grande vitória!...
                Mas quando mesmo o rei e o povo lhe faltassem, tinha um outro auxílio, muito mais poderoso e certo, o das suas amigas do céu, das boas e queridas santas... Quando ela sitiava Saint-Pierre e que os seus a abandonaram no assalto, as santas enviaram um exército invisível em seu socorro.  Como haviam elas de abandonar a sua filha obediente?  Tinham-lhe tantas vezes prometido salvação e libertação!...  
                Quais seriam, pois os seus pensamentos, quando viu que realmente era necessário morrer, quando ao subir para a carreta, caminhava por entre uma multidão tremente, sob a guarda de oitocentos ingleses armados de lanças e de espadas. Chorava e lamentava-se, não acusando, apesar disso, o seu rei, nem as suas santas... Só lhe escapava uma frase: 
                - Ó Rouen, devo então morrer aqui?  
                O término da triste viagem era o Mercado Velho, o mercado do peixe. Três estrados tinham sido levantados. Num deles estavam a cadeira episcopal e real, o trono do cardeal da Inglaterra, entre as cadeiras do seus prelados. No outro deviam figurar os personagens do lúgubre drama, o pregador, os juízes e o bailio, finalmente condenada. Via-se afastado um grande estrado de gesso, cheio de lenhas; não havia que censurar a pira, assustava pela sua altura. Não era apenas para tornar a execução mais solene; havia um intuito, que era o de, estando a pira tão alta, o carrasco não pudesse ali chegar senão por baixo, apenas para atear o fogo, não podendo assim abreviar o suplício, nem matar a paciente, como fazia com outros, poupando-os assim às chamas. Aqui, não se tratava de iludir a justiça, de dar ao fogo um corpo morto. Queria-se que ela fosse realmente queimada bem viva, que, posta no cume desse monte de lenha e dominando o círculo das lanças e das espadas, pudesse ser vista de toda a praça. Lentamente, longamente queimada sob os olhares duma multidão curiosa, havia lugar para crer que por fim ela deixaria surpreender alguma fraqueza, que lhe escapariam algumas palavras que se pudessem tomar por uma retratação, pelo menos palavras confusas que se poderiam interpretar, talvez baixas súplicas, humilhantes gritos de perdão, como duma mulher desvairada... 
                Um cronista, amigo dos ingleses, dá-lhes aqui uma carga cruel. Eles queriam, a dar-lhe crédito, que, queimado primeiro o vestido, ela ficasse nua "para tirar as dúvidas do povo"; que sendo o fogo afastado, todos a fossem ver "e todos os segredos que podem ou devem existir numa mulher"; e que, depois dessa impudica e feroz exibição, "o carrasco novamente pusesse fogo no pobre corpo". 
                A horrível cerimônia começou por um sermão. Mestre Nicolau Midy, um dos luminares da Universidade de Paris, pregou sobre este texto edificante: 
                "Quando um membro da Igreja está doente, toda a Igreja está doente". 
                Essa pobre Igreja só podia curar-se cortando o membro. 
                Concluía pela fórmula:
                - Joanna vai em paz, a Igreja já não pode defender-te. 
                Então o juiz da Igreja, o bispo de Beauvais, exortou-a benignamente a ocupar-se da sua alma e a recordar-se de todos os seus malefícios,  para se excitar ao arrependimento. Os assessores tinham julgado que era oportuno repetir-lhe a sua abjuração, o bispo, porém, não o fez. Receava desmentidos, reclamações. Mas a pobre rapariga não pensava discutir assim a sua vida, tinha pensamentos bem diferentes. Antes mesmo de a terem exortado a arrepender-se, ela ajoelhara, invocando Deus, a Virgem, S. Miguel e Santa Catarina, perdoando a todos e pedindo perdão, dizendo aos assistentes: 
                 - Orem por mim!...
                 Suplicava principalmente aos padres que cada um deles dissesse uma missa por sua alma... Tudo isso de modo tão devoto, tão humilde e tão comovedor que, propagando-se a comoção, ninguém se pode conter. O bispo de Beauvais pôs-se a chorar, o de Bolonha soluçava e os próprios ingleses choravam também, até o próprio Winchester.
                  Seria nesse momento de enternecimento universal, de lágrimas, de fraqueza contagiosa, que a desaventurada, alquebrada e tornada simples mulher, confessou que não não tivera razão, que a tinham enganado aparentemente, prometendo-lhe liberdade? Não podemos crer neste ponto o testemunho interessado dos ingleses. Todavia, seria preciso conhecer muito pouco a natureza humana para duvidar de que, assim iludida na sua esperança, ela não vacilasse na fé... Que disse essas palavras, não é certo; afirmo que as pensou. 
                  No entanto, os juízes, um momento desconcertados, tinham recuperado ânimo. O bispo de Beauvais, enxugando os olhos, pôs-se a ler a sentença condenatória. Relembrou à culpada, todos os seus crimes, schisma, idolatria, invocação de demônios, como fora admitida a fazer penitência e como "seduzida pelo Príncipe da mentira, recaíra, ó dor! como cão de lambe  de novo o que vomitou... Por consequência, pronunciamo-nos porque é um membro apodrecido e, como tal, separado da Igreja. Entregamo-la ao poder secular, pedindo-lhe contudo que modere o seu julgamento, evitando-lhe a morte e a mutilação dos membros."
                  Abandonada assim pela Igreja, voltou toda a sua confiança para Deus. Pediu uma cruz. Um inglês deu-lhe uma de madeira, que fez dum pedaço de pau; nem por isso ela a recebeu com menor devoção, beijou-a e colocou esta tosca cruz debaixo do vestido e junto da carne... Mas desejava a cruz da Igreja para conservar diante dos olhos até morrer. O bom meirinho Massieu e frei Isambart, tanto fizeram que lhe trouxeram a da freguesia de S. Salvador. Quando ela beija essa cruze que Isambart a animava, os ingleses começaram a achar tudo isso muito demorado . Devia ser perto do meio dia, os soldados resmungavam, os capitães diziam:
                    - O que, padre, quereis fazer-nos jantar aqui? 
                    Então, perdendo a paciência e não esperando a ordem do bailio, que era o único com autoridade para a enviar à morte, mandaram subir dois sargentos para a tirarem das mãos dos padres. Aos pés do tribunal foi agarrada pelos homens de armas, que a arrastaram para o carrasco, dizendo-lhe: 
                   - Cumpre a tua obrigação. 
                   Essa fúria dos soldados causou horror; muitos dos assistentes, até alguns juízes fugiram, para não veem o resto. 
                   Quando ela chegou abaixo, à praça, entre esses ingleses que erguiam as mãos para ela, a natureza recuperou o seu domínio e a carne perturbou-se. 
                   Exclamou de novo: 
                   - Ó Rouen, serás então minha última morada! ...
                  Nada mais disse e "não pecou pelos lábios", mesmo nesse momento de assombro e de perturbação... 
                 Não acusou nem o seu rei nem as suas santas.  Mas, quando chegou ao cimo da pira, ao ver aquela grande cidade, aquela multidão imóvel e silenciosa, não pode deixar de dizer: 
                 - Ah! Rouen, receio muito que venhas a sofrer por causa da minha morte!
                 Aquela que tinha salvo o povo e quem o povo abandonava, só exprimiu, ao morrer, admirável doçura e compaixão por ele. 
                 Foi amarrada debaixo do poste infame, tendo na cabeça uma mitra, onde se lia: "Herética, relapsa, apostata"... Então o carrasco por fogo na lenha...  Ela viu-o, de cima, e soltou um grito... (Depois, como o frade que a exortava, não prestava atenção às chamas, teve medo por ele, esquecendo-se de si mesma, e fez com que ele descesse. O que prova bem que até ali ela nada tinha retratado expressamente, é que o desaventurado Cauchon foi obrigado (sem duvida pela vontade satânica que o dominava) a ir junto da pira, obrigado a afrontar de perto o rosto da sua vitima, para tentar arrancar-lhe alguma palavra... Só obteve uma frase desesperadora. Ela disse-lhe com suavidade o que já lhe tinha dito: 
                  - Bispo, morro por vossa causa... Se me tivésseis metida nas prisões da Igreja, tal não teria sucedido. 
                  Tinha-se esperado sem duvida que, julgando-se abandonada pelo seu rei, ela o acusaria finalmente e falaria contra ele. Defendeu-o até o fim:
                  - Se fiz bem, ou se fiz mal, o meu rei em nada interveio; não foi ele quem me aconselhou. 
                  Entretanto, as chamas elevaram-se...  No momento em que a tocaram, a desaventurada estremeceu e pediu água benta. Água era aparentemente o grito de medo... Mas, tomando ânimo imediatamente, apenas chamou por Deus, pelos seus anjos e pelas suas santas. Ela repetiu: 
                 - Sim, as minhas vozes eram de Deus, as vozes não me enganaram!... 
                 Que toda a incerteza cessara nas chamas, leva-nos a crer que ela aceitou a morte pela libertação prometida, ou já não entender a salvação no sentido judaico e material, como fizera até ali, ou ter visto claro finalmente, e, saindo das sombras, alcançado o que lhe faltava ainda de luz e santidade. 
                  Estas grandes palavras são atestadas pela testemunha obrigada e jurada da morte, pelo dominicano que subiu com ela à pira, a quem ela fez descer, mas que debaixo, lhe falava, a escutava e segurava a cruz. 
                  Temos ainda outra testemunha dessa santa morte, uma testemunha bem séria, que foi sem duvida um santo. Esse homem, de que a história deve conservar o nome, era o frade Agostinho, já mencionado, frei Isambart da Pedra. Durante o processo, estivera a ponto de morrer por ter aconselhado a Donzela, e todavia, apesar de assim se expor ao ódio dos ingleses, quisera ir com ela na carreta, mandara vir a cruz da igreja da freguesia, fora seu assistente entre essa multidão furiosa, não só no estrado, mas ainda na pira. 
                  Vinte anos depois, os dois veneráveis religiosos, simples frades, tendo feito voto de pobreza  e nada tendo a ganhar nem temer neste mundo, depõem o que se vai ler: 
                  - "Nós a ouvíamos, dizem eles, no meio das chamas, invocar as suas santas, o seu arcanjo; ela repetia o nome do Salvador... Finalmente, deixando pender a cabeça, soltou um grande grito: "Jesus!"
                 " Dez mil homens choravam..." Só alguns ingleses riam ou faziam esforços para rir. Um deles, dos mais furiosos, jurara colocar na pira um molho de lenha; ela expirava no momento em que ele o fez e sentiu-se desfalecer; os seus companheiros levaram-na para uma taberna para lhe darem de beber e fazê-lo voltar a si; mas não sossegava: 
                 - Vi, dizia ele, fora de si, vi da sua boca, com o último suspiro, envolar-se uma pomba. 
                  Outros tinham lido nas chamas a palavra que ela repetia:"Jesus!"
                  O carrasco foi nessa mesma tarde ter com frei Isambert, estava aterrado, confessou-se, mas não podia crer que Deus lhe perdoaria... Um secretário do rei da Inglaterra dizia em voz alta, ao regressar: 
                  - Estamos perdidos; queimamos uma santa! 
                  Estas palavras, proferidas por um inimigo, não são menos graves. Ficarão na história. O futuro não as contradirá. Sim, segundo a Religião, segundo a Pátria, Joanna D'Arc foi uma santa. Mais tarde, suas cinzas foram jogadas no rio Sena, para que não se tornasse objeto de veneração pública. 
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QUEM FOI JOANNA D'ARC 
Sua origem e sua importância para a França
Joanna D'Arc foi chefe militar do exército francês durante a Guerra dos 100 anos.
Nasceu em Domrémy, na região de Lorena na França. Não se tem certeza sobre sua real idade; durante o interrogatório em 24 de fevereiro de 1431 ela disse ter 19 anos; assim, calcula-se que tenha nascido em 1412.
Tinha quatro irmãos: Jacques, Catherine, Jean e Pierre, sendo ela a mais nova dos irmãos.
 Seus pais eram agricultores e também artesãos. Ela, a filha mais nova, era muito religiosa e costumava fugir do campo para ir à igreja rezar.
 A GUERREIRA
Quando a França tentou recuperar os territórios perdidos para a Inglaterra, originou-se um dos mais longos e sangrentos período de guerra da história humana: A Guerra dos 100 anos, que na verdade durou 116 anos e provocou milhões de mortes e a destruição de quase toda a França setentrional.
Aos 16 anos de idade ela fugiu de casa e foi para Vaucouleurs, cidade vizinha de Domrèmy. Ali procurou o capitão da guarnição armagnag; pediu-lhe ajuda para ir até Chinon, onde estava o delfim; era um caminho perigoso, dominado por inimigos, e precisava de uma escolta para acompanhá-la. A princípio não foi atendida, mas, depois de quase um ano o capitão Baudricourt aceitou envia-la até delfim com um escolta de seis homens; isso aconteceu por volta de 13 de fevereiro de 1429. 
Vestida com roupas masculinas, que não estavam de acordo com as normas da Igreja, atravessou as terras dominadas pelos Bourguinhões, chegando finalmente a Chinon, onde onde  iria encontrar o futuro Rei Carlos; levou consigo uma carta de apresentação escrita por Baudricourt. foi conduzida a uma sala cheia de nobres, onde também se encontrava  Carlos, sucessor de Luiz VI.  Aproximou-se dele e disse: "Senhor, vim conduzir os seus exércitos à vitória". 
 Sozinha na presença do rei, ela o convenceu a lhe entregar um exército com o intuito de liberar Orléans. Antes, porém, mandou-a para ser interrogada por teólogos reais, que também averiguaram sua virgindade e suas verdadeiras intenções. 
Após estas preliminares, Carlos, convencido por Joanna entrega-lhe uma espada e um estandarte e a autorizou acompanhar as tropas que seguiam rumo à cidade de Orléans, que a mais de oito meses havia sido invadida pelos ingleses. 
Com sua espada e bandeira branca, Joana chega a  Orléans  em 29 de abril de 1429.  Sob seu estandarte, o exército de 4.000 homens romperam o cerco a Orléans e derrotaram os ingleses em 8 de maio de 1429. A batalha foi feroz e sangrenta, mas Joanna mostrou a todos a sua coragem e força. A batalha perdurou oito meses, durante os quais Joanna, com seu fervor religioso e patriótico, manteve sempre aceso o ânimo das tropas até à vitória. 
Joanna, na verdade, nada sabia sobre guerra, mas era extremamente disciplinada e mesmo com seu ar angelical,  comandou aqueles soldados violentos e  rudes, e em sua presença ninguém se atrevia a dizer ou fazer coisas inconvenientes.  
Um mês apos a vitória sobre os ingleses em Orléans, ela conduziu o Carlos VII à cidade de Reims, onde foi coroado Rei da França em 17 de julho de 1429. A vitória e a coroação do rei reacenderam as esperanças dos franceses de se libertarem do domínio inglês. 
Paris continuava sob o domínio do borguinhões; houve alguns enfrentamentos e Joanna foi ferida por uma flecha durante uma tentativa de entrar em Paris. Com este acontecimento, o rei decidiu bater em retirada no dia 10 de setembro.  A intenção do rei não era abandonar definitivamente a luta, mas preferiu uma trégua para poder melhor pensar e talvez conquistar a vitória mediante a paz, acordos e outras oportunidades no futuro. 
Na primavera de 1430, Joanna d'Arc retomou a campanha militar na tentativa de libertar a cidade de Compiégne, onde acabou sendo dominada e capturada pelos borguinhões, aliados dos ingleses, em 23 de maio de 1430. Entre os dias 23 e 27 foi conduzida ao castelo de Beaulieu-lès-Fontaines. Ali passou a ser tratada como um valioso troféu que serviria, mas tarde, para negociação e venda aos ingleses.  
Nos dias 27 e 28 foi interrogada pelo próprio Duque de Borgonha, Felipe II. Já então como propriedade do Duque de Luxemburgo, foi levada ao Castelo de Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão, enquanto o duque negociava sua venda. Após a negociação foi transferida para a Ruão, onde ficou presa numa cela vigiada por cinco homens. Neste momento começa sua terrível peregrinação até à morte. 
O processo contra Joanna, que passaria à posteridade e que a converteria em heroína nacional, teve início no dia 9 de janeiro de 1431. 
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A REVISÃO DO PROCESSO
A Camponesa modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa e também heroína de seu povo. 
A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, e o processo que a condenou foi considerado inválido, e em 1909 a Igreja Católica autoriza sua beatificação. Em 1920, Joanna d'Arc é canonizada pelo Papa Bento XV. 
Nicéas Romeo Zanchett